Não sei quem será o próximo prefeito de São Paulo, mas o que me parece bem óbvio é que o influencer Pablo Marçal já se tornou o grande vencedor da atual temporada eleitoral. Não existe candidato desta safra que seja tão debatido, admirado e odiado em todo o país. Qualquer que seja o resultado do dia 6, o pior e o melhor das estratégias de Marçal serão minuciosamente avaliados e, em muitos casos, replicados. Mesmo as menos éticas, capazes, afinal, de alçar um outsider de passado duvidoso e presente de charlatão a bater em algo próximo a 1,5 milhão de votos.
O fato é que o candidato provou que com alguma verba para impulsionamentos, muito verbo afiado, além de gatilhos para disparar pregação anticomunista e a falsa, mas sedutora, mensagem de apóstolo da antipolítica ele foi capaz de se comunicar bem e de forma direta com o amplo público que finge odiar políticos e que busca respostas rápidas para problemas complicados.
Falar a real durante a campanha é bobagem e dispensável no modus operandi da cartilha de Marçal. O que importa é conquistar as mentes, seja por promessas de falsos milagres ou pela coragem e rapidez para golpear os rivais. Parece até que parte relevante dos votantes não espera soluções, mas tem sede de reality show eleitoral.
Com Marçal no páreo, o jogo fica mais embolado no campo da direita. Está bem claro que o ex-coach fisgou apoios importantes entre o que parecia ser reduto cativo do presidente Bolsonaro. A dúvida é se ele realmente terá combustível para acelerar em busca de consolidar e até mesmo ampliar essa fatia ou se as adesões que obteve foram apenas um pit-stop do eleitor mais à direita, que estava na pista atrás de um nome que visse como uma réplica do bolsonarismo raiz.
As pesquisas não esclarecem a dúvida. Suspeito que possamos ver um cenário como a da eleição para prefeito de São Paulo em 2000 ou a última para o governo do Rio Grande do Sul. No pleito de 24 anos atrás na capital paulista, Paulo Maluf e Geraldo Alckmin disputaram de forma renhida uma vaga para o 2º turno. Deu Maluf pela exígua margem de 0,14%.
Há dois anos, os gaúchos provocaram suspense ainda maior. Na briga por um lugar no turno final, Eduardo Leite superou o petista Edegar Pretto por meros 0,04%, ou 2441 votos de diferença.
Agora pode ser ainda pior, com empate técnico entre os três primeiros. Mas ainda suspeito que a extrema periferia vai empurrar Guilherme Boulos para a final. E que o voto envergonhado levará Marçal a decidir contra ele. Nesse cenário, o racha na Bolsolândia teria consequências imprevisíveis.