Uma grande pedra de âmbar-gris, um material raro e valioso, produzido no sistema gastrointestinal das baleias cachalotes e usado na indústria de perfumes, foi encontrada na Espanha no fim de maio. A peça pode valer até US$ 500 mil (R$ 2,6 milhões), segundo a mídia espanhola.
A história começou em 21 de maio, quando uma baleia cachalote morta apareceu na praia de Nogales, na ilha de Las Palmas, na Espanha. No dia seguinte, veterinários forenses da Universidade de Las Palmas foram enviados até lá para fazer uma necrópsia da baleia –era preciso agir rapidamente, para aproveitar a maré baixa –e descobriram uma pedra de cerca de 9 quilos de âmbar-gris, o material raro, dentro da cachalote.
🐳 O que é o âmbar-gris? É uma espécie de cera que a cachalote produz para envolver materiais resistentes ao processo digestivo. O principal alimento desse tipo específico de baleia são as lulas de grande profundidade, que têm um bico parecido com o de papagaio, formado de quitina. É justamente para facilitar o transporte desse bico e evitar ferimentos que serve a “carapaça” de âmbar-gris.
🪨 Por que o material é raro? O âmbar-gris é produzido dentro do sistema digestivo de uma única espécie de baleia, a cachalote, que não pode ser caçada e é considerada vulnerável para extinção. A forma mais comum de se encontrar essa pedra é quando ela já foi expelida junto com as fezes da baleia, flutuando no mar, encalhada nas praias, ou em redes de pescadores.
🧴O que se faz com âmbar-gris? Perfume. Usa-se esse material para perfume há séculos, mas como é cada vez mais raro, o preço é alto.
👃 Por que o material é cobiçado pela indústria de perfume? Porque tem um cheiro considerado quente, intenso e complexo, com elementos do mar como algas, plâncton ou crustáceos.
Baleia estava magra
A baleia era um macho de 13 metros e mais de 15 toneladas. Os veterinários determinaram que uma baleia deste tamanho deveria ser mais pesada, e que, portanto, havia algum problema no sistema digestivo da cachalote. Foi por isso que começaram a abrir o sistema digestivo do animal.
Durante a necropsia, ao investigar o tubo digestivo, eles encontraram uma pedra de cerca de 9 quilogramas e quase 60 centímetros. Trata-se de âmbar-gris, e segundo o jornal espanhol “El Mundo”, pode valer até 500 mil euros (R$ 2,6 milhões).
A pedra formada no sistema digestivo da baleia
Âmbar-gris é um material que é produzido dentro do sistema gastrointestinal desse tipo específico de baleia, diz Marcos Cesar de Oliveira Santos, do Instituto de Oceanografia da USP.
O âmbar-gris é uma espécie de cera que a baleia produz para envolver materiais resistentes ao processo digestivo, afirma Santos em seu livro “Orca é Baleia ou Golfinho?”.
O professor Andre Silva Barreto, da Universidade do Vale do Itajaí, explica que as cachalotes se alimentam de um animal, as lulas de grande profundidade. “Essa lula não tem dentes, mas tem um bico que é parecido com o de um papagaio, formado de quitina, a quitina é um material muito resistente à digestão”.
A baleia consegue digerir o corpo das lulas, mas não esse bico. “As cachalotes desenvolveram a produção dessa substância, o âmbar-gris, que parece uma cera que serve para envolver esses bicos de lula e facilitar o transporte no tubo digestivo, para ser eliminado sem haver ferimento”, afirma ele.
Geralmente, essas bolotas saem junto com as fezes da baleia e ficam boiando no mar. A gordura do material, ao entrar em contato com o mar, fica empedrada. Esse é o material que interessa aos especialistas em perfume.
O perfume do âmbar-gris
Olivier Fabre, um avaliador olfativo, diz que o âmbar-gris tem um cheiro quente, intenso e complexo –é um odor que remete a animais, com elementos do mar como algas, plâncton ou crustáceos.
“É um cheiro muito único, e utilizado pelos perfumistas para o que se chama de notas de fundo das fragrâncias finas. Confere sensualidade, riqueza e tem uma remanência longa por isso que às vezes se denominam, erroneamente, como fixador. Não fixa odores, é remanente e fica na pele e na memória de quem usa um perfume com âmbar-gris”, diz ele.
O material é raro, diz Fabre, por ser de origem animal (e a caça de cachalote com fim de extração do âmbar-gris, claro, é proibida). Só o âmbar-gris encontrado flutuando no mar, nas praias ou nas redes de pescadores ainda é utilizado em perfumaria.
O preço da pedra rara
“Existe o âmbar-gris reproduzido sinteticamente, bem diferente olfativamente, em remanência e em preço”, afirma Fabre.
Em uma reportagem da BBC de 2015, afirma-se que um homem encontrou um pedaço do material em uma praia e conseguiu US$ 17 mil pela peça.
A BBC também publicou um texto sobre a pedra encontrada dentro da cachalote em Las Palmas, e afirma que estima-se que possa valer até US$ 500 mil.
O material já é caro faz tempo. No livro “Moby Dick” (a baleia branca que o capitão Ahab persegue no livro é justamente uma cachalote), publicado em 1851, há diversas citações ao âmbar-gris. Em uma passagem, o material é descrito assim: “Parecia sabão de Windsor, ou um velho queijo forte e mosqueado; e, ademais, gorduroso; sua cor fica entre o amarelo e o cinza. E isso, caros amigos, é o âmbar-gris, do qual cada onça vale um guinéu de ouro em qualquer boticário”.
Pedra que vale R$ 2,6 milhões é encontrada dentro de baleia cachalote
G1