Amber Heard anunciou nesta segunda-feira (19) que chegou a um acordo com o ex-marido, Johnny Depp. A atriz publicou um comunicado em seu perfil no Instagram, onde afirmou que não dará continuidade a um processo que movia contra o ator.
“É importante dizer que eu nunca escolhi isso. Eu defendi minha verdade e, ao fazê-lo, minha vida como eu conhecia foi destruída”, diz a nota da atriz, que este ano perdeu um processo de difamação que movia contra o ex-marido.
Em julho, um tribunal de júri no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, decidiu que Depp deveria receber da atriz US$ 10 milhões (R$ 53,1 mi) em danos compensatórios e US$ 5 milhões (R$ 26,5 mi) em danos punitivos. Heard foi condenada por difamação após ter escrito um artigo de opinião no jornal americano The Washington Post, em que dizia ter sido vítima de violência doméstica.
A atriz, que também ingressou com um processo de difamação contra o ex-marido como resposta jurídica, ganhou parte do processo, no valor de US$ 2 milhões (R$ 10,61 mi).
Durante o julgamento, as redes sociais foram tomadas de vídeos favoráveis a Depp. Um dos motivos de Heard ter pedido anulação da sentença seria a impossibilidade do júri de se manter neutro frente ao bombardeamento de informações negativas sobre ela.
Depp já havia perdido um processo semelhante no Reino Unido. Em 2020, o ator processou o jornal britânico The Sun após reportagens que o acusavam de abuso doméstico. A corte britânica não acolheu o pedido do ator, produzindo um documento de 129 páginas sobre o caso. Os advogados da Heard queriam que o precedente fosse utilizado como prova no julgamento nos EUA.
A atriz declarou hoje que não continuaria com o processo de apelação. Sua decisão, diz, é calcada no sofrimento psicológico e físico que o julgamento lhe causou.
“Após muita reflexão, tomei a difícil decisão de encerrar o processo de difamação movido contra mim por meu ex-marido na Virgínia.
É importante dizer que nunca escolhi isso. Defendi minha verdade e, ao fazê-lo, minha vida como eu conhecia foi destruída. A vilificação que encarei nas redes sociais é uma versão amplificada das maneiras como as mulheres são revitimizadas quando trazem denúncias à tona. Agora finalmente tenho a oportunidade de me emancipar de algo que tentei abandonar há mais de seis anos em termos com os quais posso concordar. Isso não é um ato de concessão. Não há restrições ou mordaças à minha voz daqui para frente.
Tomo esta decisão após perder a fé no sistema legal americano, onde meu testemunho desprotegido serviu de entretenimento e forragem para as redes sociais.
Quando estive em frente a um juiz no Reino Unido, fui vingada por um sistema robusto, imparcial e justo, onde eu era protegida de dar os piores momentos do meu testemunho em frente à mídia do mundo todo, e onde a corte concluiu que eu fui submetida à violência sexual e doméstica. Nos Estados Unidos, no entanto, exauri quase todos os recursos antes e durante um julgamento em que fui submetida a um tribunal em que evidências abundantes e diretas que corroboravam meu testemunho foram excluídas, e em que popularidade e poder foram mais decisivos que a razão e o devido processo legal. Nesse meio-tempo, fui exposta a um tipo de humilhação que simplesmente não posso viver outra vez. Mesmo que meu apelo nos Estados Unidos tenha sucesso, o melhor resultado seria um novo julgamento onde o júri teria que considerar as evidências outra vez. Eu simplesmente não consigo passar por isso pela terceira vez.
O tempo é precioso e eu quero gastar o meu tempo de uma forma produtiva e com propósito. Por muitos anos estive presa em um processo legal árduo e custoso, que se mostrou incapaz de proteger a mim e a minha liberdade de expressão. Não posso arcar com uma conta impossível –uma que não é só financeira, mas também psicológica, física e emocional. Mulheres não deviam ter que enfrentar abuso ou falência por falarem a verdade, mas infelizmente isso não é incomum.
Ao fazer um acordo sobre este caso, também estou escolhendo a liberdade de dedicar meu tempo ao trabalho que me ajudou a me curar após meu divórcio; trabalho que existe em áreas onde me sinto vista, ouvida e acreditada, e onde sei que posso causar mudanças.
Não serei ameaçada, desalentada ou dissuadida por aqui que aconteceu após falar a verdade. Ninguém pode e ninguém vai tirar isso de mim. Minha voz continua como recurso mais valioso que eu tenho.
Gostaria de agradecer aos meus advogados que atuaram no julgamento do recurso e do original por seu trabalho implacável. Quero agradecer a todos que me apoiaram e volto minha atenção ao apoio crescente que senti e vi publicamente nos meses desde o julgamento, e os esforços que foram feitos para mostrar solidariedade à minha história. Todo sobrevivente sabe que a possibilidade de contar sua história parece, frequentemente, o único consolo, e eu não tenho palavras para explicar a esperança que a crença de vocês em mim inspira, não só para mim, mas para todos.
Obrigada. Vejo vocês em breve.”