Após vídeo que circulou nas redes sociais em que um homem criticou uma quadrilha que dançou ao som de ‘Anaconda’, uma das músicas de Luísa Sonza, no palco do Arraial do Centro Social Urbano (CSU), no Parque Dez, em Manaus. Muitos internautas começaram a generalizar as quadrilhas juninas. Pensando nisso, o Portal Amazônia Press entrevistou amantes de festas juninas para falarem sobre os tipos de quadrilhas na região e as opiniões deles sobre o fato ocorrido.
Manifestação que exalta os valores, crenças e costumes amazonenses, tanto da capital quanto do interior, sob a influência e características das culturas portuguesa, indígena e nordestina, as festas juninas acontecem todos os anos no Amazonas, e é a época mais esperada do ano. E para afunilar o assunto, escolhemos três representantes de cada tipo de quadrilha, são elas, quadrilha cômica, quadrilha alternativa, e quadrilha tradicional.
Para representar as quadrilhas tradicionais, entrevistamos o Vice Presidente da Marupiaras do Amazonas, Elson Rocha, que também faz parte do Conselho Estadual de Cultura do Folclore e Carnaval. Ao ser questionado sobre a diferença que os Marupiaras do Amazonas têm sobre as outras quadrilhas, Elson ressalta a vitória de voltar às festas juninas e a importância de representar o Estado.
“A volta foi uma vitória, uma vitória da saúde. A gente chegou a fazer em 2020, como ainda não podia aglomerar, a gente conseguiu fazer 8 eventos no formato de concurso, Rainha da Diversidade, Quartetos, Casal de Quadrilheiros entre outros. E agora a gente retornou com força total, os brincantes querendo voltar, confraternizar, foi uma forma até mesmo de celebrar a própria vida, e a gente tem orientado os quadrilheiros a valorizar a vida”, disse Elson Rocha.
“A gente carrega o tradicionalismo, então a gente preserva muitas coisas, como as saias rodadas, com tule, renda e outros. A gente tem um das poucas quadrilhas que tem a própria coreografia, exemplo, a coreografia da fita ponto a ponto que foi apresentado há 20 anos atrás, no Estádio Nacional de Brasília “Mané Garrincha”, na época nem o youtube existia, foi o primeiro contato que tivemos nacionalmente e criamos algumas coreografias regionais, pois a Maurpiaras sempre buscou representar o Estado do Amazonas, representar o formato amazonense de ser”, ressalta o Presidente.
Ao ser questionado sobre a evolução das danças e a representação de cada quadrilha, Elson destaca a inclusão de diversidade e respeito com os tipos de danças.
“Eu acredito que a dança vem evoluindo, pois passamos a ter novas tecnologias, evolui em termo de coreografia, evolui em termo de ritmo e também em termo de música. É importante a evolução, porém nós temos a questão de fazer a evolução e não perder a tradição. Podemos fazer algo que represente a quadrilha, mas sempre pensando em até que ponto podemos sair da tradição, e se sair, a Marupiaras já não faz”, disse ele.
“As quadrilhas vieram sofrendo mudanças, em Manaus, temos as quadrilhas tradicionais, quadrilhas cômicas que eu costumo a dizer que é uma quadrilha da diversidade, visto que o fatodo homossesual se vestir de mulher, isso não quer dizer que precise ser cômico, isso é algo que eu defendo. Em relação às mudanças que eu pude ver, colocando passos de tik tok e músicas que não tem nada a ver com o movimento junino, eu lamento porém respeito, pois a criatividade de cada um precisa ser respeitada. Assim como meu tradicionalismo também precisa ser respeitado, muitos vão dizer que é arcaico, que é coisa do passado, mas é histórico é o momento, e eu sempre vou preservar a questão do tradicionalismo”, finaliza o presidente da Liga das Quadrilhas Juninas do Amazonas.
Em entrevista ao Portal Amazônia Press, Jefferson Leal da Silva, 40, Presidente da Quadrilha Alternativa Cômica Fuzileiro na Roça, conta que ver os brincantes voltando a dançar é muito satisfatório para ele, pois devido a pandemia houve uma quantidade significativa dos participantes.
“Durante a pandemia perdemos muitos brincantes, muitos deixaram de dançar, outros se afastaram, tivemos que recomeçar do zero. Então, voltar aos festivais é muito gratificante, é maravilhoso, eu como líder ver e colocar essa juventude de novo para dançar é muito bom, até porque eles se ocupam um pouco, esquece que houve a pandemia e os problemas. A gente já está na terceira geração, são 26 anos. Hoje minha filha faz parte do grupo, meu netinho acompanha o grupo, isso é satisfatório, pois deixa um legado e eu espero que continue depois de mim”, disse o presidente do grupo.
Ao relembrar o processo de criação para os festivais, Jefferson, reforça que é necessário haver um estudo das músicas para a escolha da temática e como isso pode passar ao público.
“Todo ano a gente escolhe um tema, a gente escolhe as músicas, sempre com intuito de passar uma mensagem musical em cima da temática, a gente mistura humor, crítica, ironia e transforma tudo em um enredo. Não é nada fácil juntar todos esses arranjos, montar as coreografias baseadas no tema, mas a gente tem uma equipe ótima, a maioria tem muita experiência e isso contribui muito, cada um com seu estilo e a gente segue. A gente recebe muitas críticas, as pessoas acham que cultura é a gente viver no mesmo tambor, mas não, a cultura ela vem se inovando a cada dia. O nosso movimento é muito grande, e a gente acaba trazendo isso para cima do palco, agrada muita gente, mas desagrada a minoria. Em nosso ponto de vista a gente evoluiu, e a gente precisa seguir todos os novos padrões, disse ele.
Ao ser perguntado sobre o estilo e a cultura de dança que desenvolve junto a sua equipe, Jefferson Leal, ressalta a falta de patrocínio e eventos para os grupos de danças em Manaus.
“Em Manaus a dança acaba não sendo valorizada, é muito difícil ver um grande evento com disputas de danças onde grupos possam mostrar seus trabalhos, o que a gente consegue ver é um evento voltado a kpop, mas de rua mesmo como funk não tem em Manaus. E isso faz com que ocorra essa imigração da galera para as quadrilhas por falta de espaço, e na hora de escolher as categorias, elas escolhem errado, e como a dança é expressão elas se expressam errado, e isso não bate com folclore. Mas tem muitos grupos que acertam as categorias, e os tipos de músicas, onde tem pessoas capacitadas para montar a coreografia. E uma série de fatores que não podemos generalizar, a gente não tem muito apoio de governo e nem prefeitura, e muitas pessoas procuram na dança”finaliza presidente da Quadrilha Alternativa Cômica Fuzileiro na Roça.
Há 27 anos a Quadrilha Alternativa Funk Na Roça Alternativa vem com a ideia de fazer algo diferente no folclore amazonense, e sempre valorizando a cultura de rua, além de desenvolver trabalhos sociais na comunidade, promovendo integração e qualificação profissional. Presidente, coreógrafo e DJ operacional, Maicon Costa (O TAL FALADO), 51, conta que a paixão pelas festas de São João e o trabalho que vem desenvolvendo desde de então.
“Passar dois anos sem os festivais foi muito dolorido para nós, pois quem é folclorista de verdade ama o que faz, mas também a dor de perder entes queridos, pais de brincantes foi mais dolorido que ficar sem o folclore. A Funk Na Roça vem com a ideia de fazer algo diferente no folclore, e que vinhesse dá um pouco de valor a cultura de rua, o hip hop, break e o funk, tudo que a gente trouxe em nossas veias envolvendo a dança, além de virar uma terapia ocupacional para os jovens.
Todos os anos podemos ver coreografias diferentes, assim como figurino. Ao ser questionado sobre o processo criativo, Maicon agradece a comunidade do bairro Educandos por sempre acreditar no grupo.
“Além da dança a gente faz a parte indumentária, onde todo o ano são roupas diferentes, onde a comunidade faz parte, como nos eventos, participando de feiras culturais para ganhar fundos para compensar na construção de roupas e costura E como a gente faz parte do folclore principal que é a categoria ouro, temos que ter todo o ano algo diferente para apresentar. Todo o processo vem com muita dificuldade, mas estamos nos superando todos os anos, tem muitos lojistas do bairro do Educandos que vem ajudando a gente, e ficamos muito felizes que tenham pessoas que apoiam esse projeto”, disse ele.
Ao ser indagado pela evolução da dança e músicas, Maicon ressalta a importância de inovar sem esquecer as raízes, e focar sempre no lema do grupo que é dançar e levar alegria. E diz que o grupo está determinado a levar o jovem para o bem estar comum, o coletivo de união e a preparação para a sociedade, pois sabem que ao falar de funk já gera um preconceito muito grande.
“A dança é uma evolução que no decorrer dos anos vem se superando, e na Funk na roça usamos vários estilos, como o flashback que é o coração do grupo, tem funk raiz que é sem apologia a droga ou a qualquer tipo de discriminação. O que vem sendo mostrado atualmente vem com grande fundamento, tem muita gente que não se preocupa em fazer folclore, eles acham que tudo que é modinha tem que ser colocado, nem tudo que é modismo é o certo”.
“Temos que entender que isso é um cultura folclórica que vem de anos, e uma cultura sem suas raízes ele não progride ele decai. A gente consegue ver uma invasão de danças sem nenhum conteúdo folclórico, e contudo, vai se perdendo nossas raízes onde as pessoas não estão entendendo que com isso se perde também os valores. Claro que o novo tem que vim, mas de uma maneira respeitosa, e respeitando o passado, tem que ter muito cuidado com o que se apresenta”, finaliza o presidente.