O surgimento de novas manchas de óleo em praias da Bahia já preocupa a população, mas até então não há motivo para pânico. A substância foi encontrada no último domingo (13) no litoral de Coqueiro Verde, em Candeias, município que fica na Região Metropolitana de Salvador (RMS).
Segundo o biólogo e diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Francisco Kelmo, o momento demanda cautela, investigação e esforço dos órgãos e entidades competentes para garantir a rápida remoção de todo o material.
“Até agora a quantidade que a gente viu é pequena se comparada àquele desastre que percorreu todo o litoral do Nordeste. Então, não é necessário você alarmar a população”, frisa Kelmo em entrevista ao iG .
Além da menor proporção, ele explica que o material é diferente do encontrado em 2019, quando praias de toda a região foram atingidas pelo vazamento de um navio petroleiro de bandeira grega. Kelmo conta que a substância anterior apresentava alta densidade, por isso não flutuava na água, e já havia passado por transformações dentro do ambiente marinho. Já os novos resíduos são pastosos, com forte cheiro de óleo e ainda não transformados.
“O óleo de 2019 não tem mais aquele cheiro forte porque todos os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, os HPAs, que são aqueles gases com cheiro forte de combustível já evaporaram. Aquele material de 2019, quando a gente encontra na praia, já está todo misturado com sedimento, então já está endurecido, é o que a gente chama de poção recalcitrante. (…) Então, pode até ser da mesma fonte, ter a mesma assinatura — o pessoal da Química vai dizer depois —, mas não é o óleo derramado naquela época, esse foi recentemente derramado no mar”, ressalta.
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Essas diferenças não devem servir, no entanto, para minimizar o problema. O professor pondera que o material “continua sendo tóxico para o meio ambiente”, com maior impacto para os animais marinhos que não têm como se defender.
Números trazidos por Kelmo indicam que de 2019 para cá houve uma perda de quase 80% de biodiversidade dos invertebrados no Litoral Norte e aproximadamente 90% dos corais adoeceram. “O que a gente aprendeu com o problema em 2019 é que, como nosso litoral é quente, as pequenas partículas desse óleo derretem e formam uma natazinha bem fininha. Aí os animais que vivem dentro d’água e retiram da água seu oxigênio terminam retendo parte desse óleo dentro do seu corpo. Quando a temperatura dá uma abaixadinha, esse óleo endurece e termina entupindo o sistema respiratório. Ou se o animal se alimentou de alguma coisa suja de óleo, aquilo vai intoxicá-lo”, esclarece.
Por isso, Kelmo reforça a urgência para a remoção do material e clama por uma força-tarefa composta por pesquisadores, pescadores e voluntários, mas também a Marinha, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre outros órgãos.
Manchas de óleo no Ceará
Também neste mês, mais de 60 praias do litoral cearense registraram novas manchas de óleo . A Marinha do Brasil e o Instituto de Ciências do Mar, da Universidade Federal do Ceará (UFC), coletaram amostras para analisar a origem do material, mas, assim como no caso da Bahia, já se sabe que não se trata da mesma substância encontrada em 2019.