Após visita oficial à Rússia, Jair Bolsonaro desembarcou às 5h45 (horário de Brasília) desta quinta-feira na Hungria para uma agenda de poucas horas no país do primeiro-ministro Viktor Orbán, expoente da direita nacionalista europeia. O encontro do presidente brasileiro com o líder ultraconservador que incomoda a União Europeia ocorre a seis semanas das eleições locais, que podem dar o quarto mandato consecutivo a Orbán.
Embora a agenda em Budapeste, capital húngara, seja apenas de algumas horas, a expectativa é que seja suficiente para acenar para a base ideológica do presidente, que em outubro disputará a sua reeleição. Ao lado de Orbán, Bolsonaro tentará reforçar sua imagem de líder conservador junto a seus apoiadores de direita e extrema direita.
Bolsonaro estava acompanhado do filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que participou de diversas agendas ao lado do pai na Rússia. Os ministros Carlos França (Relações Exteriores), Walter Braga Netto (Defesa), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) também integram a comitiva.
O presidente brasileiro deixou Moscou na manhã desta quinta-feira (madrugada, no horário brasileiro) rumo à Hungria. No primeiro compromisso, o brasileiro será recebido por volta das 6h (horário de Brasília) em frente ao Palácio Sándor pelo presidente da Hungria, János Áder.
O encontro com Orbán ocorrerá em seguida no Monastério de Carmelita, onde fica localizado o gabinete do premier. Na ocasião, deverão assinados memorandos de entendimentos para a cooperação na área militar, cultural, humanitária e de gestão de recursos hídricos. Os dois deverão fazer uma declaração conjunta.
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Por fim, Bolsonaro se encontrará com o presidente da Assembleia Nacional da Hungria, László Kövér, encerrando a agenda oficial. De lá, o presidente afirmou que viajará diretamente a Petrópolis, na Região Serrana do Rio, atingida por fortes chuvas que causaram a morte de mais de cem pessoas.
A visita à Hungria estava programada para 2020, mas foi adiada por causa da pandemia do coronavírus. A viagem havia sido planejada pelo ex-chanceler Ernesto Araújo, que deixou o governo no ano passado e passou a fazer críticas abertas a Bolsonaro. Desde a saída de Araújo do Itamaraty, a condução da política externa tem agradado à militância conservadora. No grupo considerado mais radical, a crítica é que o atual chanceler, Carlos França, tenta afastar o Brasil de nações cujos dirigentes têm pautas semelhantes.
Um único acordo
A viagem relâmpago de Jair Bolsonaro à Rússia, de apenas um dia de atividades oficiais, foi marcada por sinais explícitos de boa relação entre ele e seu colega Vladimir Putin, que chegou a ser classificado como um “casamento perfeito” pelo brasileiro. Entretanto, apesar da troca de promessas de maior integração, apenas um acordo foi firmado entre Brasil e Rússia, sobre segurança, e sem consequências práticas para o comércio, o investimento ou o desenvolvimento dos países.
O único acordo firmado entre os dois países ajusta a terminologia para a troca de informações classificadas entre os dois países. O objetivo é atualizar um outro tratado entre Rússia e Brasil em 2008, ou seja, antes da Lei de Acesso à Informação, que foi publicada em 2012, que mudou a classificação dos documentos para reservado, secreto e ultrassecreto.
Ao contrário do que ocorreu em outras viagens internacionais, onde gafes e constrangimentos marcaram a visita do presidente — como em sua última ida à Assembleia Geral da ONU, quando defendeu tratamentos comprovadamente sem eficácia contra a Covid-19 —, Bolsonaro adotou um tom moderado. Diante do chefe de Estado russo, Vladimir Putin, afirmou que “busca a paz” e que “o caminho para a solução pacífica se apresenta” para o conflito do país com a Ucrânia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos.