El Salvador e seu presidente descolado, Nayib Bukele , deixaram o mundo todo surpreso no ano passado, quando o país se tornou o primeiro a tornar o bitcoin (BTC) uma moeda oficial , assim como o dólar americano. A notícia foi celebrada por apoiadores das criptomoedas, mas gerou preocupação de órgãos internacionais e muitos atritos com o FMI .
Bitcoin afeta negociações com FMI
O Fundo Monetário Internacional pediu repetidamente a El Salvador que reconsiderasse a adoção legal do bitcoin. Ainda em março de 2021, o país centro-americano buscava financiamento do FMI . Conforme apurado pela Reuters , autoridades do governo salvadorenho solicitaram US$ 1,3 bilhão dias depois que Bukele ganhou as eleições.
Na época, o acordo seria para ajudar o país a preencher as várias lacunas orçamentárias e a reduzir os custos associados às dívidas de El Salvador . No entanto, o FMI já havia feito um empréstimo emergencial à nação durante o auge da pandemia de covid-19 em 2020.
Então, surgiram os planos mirabolantes, considerados ousados e um tanto surreais, envolvendo o bitcoin. Em junho do ano passado, diversos analistas alertaram sobre os riscos que a criptomoeda poderia trazer para a economia já fragilizada de El Salvador. Mas, o ponto-chave dessa preocupação era o que a aprovação dessa política poderia significar para a relação do governo salvadorenho com o FMI.
Bukele nega que relação com FMI foi prejudicada
O bitcoin certamente afetaria negativamente as negociações em andamento com o Fundo Monetário Internacional. No entanto, Bukele insistiu que a medida poderia ajudar os salvadorenhos desbancarizados, tornar mais eficiente o envio de remessas internacionais para dentro do país, impulsionar o desenvolvimento econômico e acabar com a dependência de instituições financeiras globais.
Em entrevista à Reuters , Siobhan Morden, analista que lidera a estratégia de renda fixa da América Latina na Amherst Pierpoint Securities, disse que os tweets de Bukele sobre o bitcoin devem atrapalhar as negociações :
“Isso pode refletir apenas uma iniciativa de longo prazo ou talvez apenas uma tática chamativa de relações-públicas; no entanto, mostra falta de coordenação com anúncios impulsivos que contrariam um plano econômico coeso.”
Em junho, o Congresso salvadorenho aprovou com folga a chamada “Lei do Bitcoin” proposta por Bukele. Após o prazo determinado de 90 dias, a criptomoeda se tornou uma moeda de curso legal no país , junto ao dólar americano. No entanto, as taxas de câmbio entre as duas moedas seguiram sendo definidas pelo mercado.
No mês seguinte, o FMI advertiu novamente El Salvador contra o uso do bitcoin , argumentando que a inserção do ativo digital, volátil como é, poderia agravar a já instável economia salvadorenha e comprometer a integridade financeira do país.
No entanto, Bukele está determinado no seu experimento ao níve l nacional. Mas, se der errado, as consequências devem ser graves , tanto economicamente quanto politicamente. Ele não apenas vai enterrar sua carreira política como vai deixar uma marca negativa em El Salvador por anos aos olhos dos principais órgãos internacionais.
O bitcoin foi finalmente posto em circulação na economia salvadorenha em setembro de 2021, tornando o país o primeiro do mundo a fazê-lo. Na prática, os cidadãos podem usar a criptomoeda para tudo, desde compras cotidianas até pagamento de impostos, tudo através de um aplicativo e da carteira digital estatal Chivo. A estreia do ativo foi marcada por problemas técnicos, protestos por parte da população e a adoção foi muito mais lenta do que o esperado.
Leia Também
Mesmo assim, Bukele seguiu comprando bitcoins durante os períodos de baixa da criptomoeda. Em outubro, o “jovem” presidente, que com 40 anos usa um boné para trás como marca registrada, argumentou que a moeda digital estava se mostrando benéfica para El Salvador e negou que a medida teria afetado seu acordo em andamento com o FMI . Na realidade, ele sugeriu que os aspectos positivos destacados da Lei do Bitcoin seriam o ponto-chave das negociações com o Fundo Monetário Internacional.
“Bitcoin City” e títulos soberanos foram a gota d’água
A situação ficou mais tensa em novembro , quando Bukele anunciou a tal “Bitcoin City”, uma cidade inteira baseada em uma instalação gigantesca de mineração da criptomoeda e energizada por uma usina geotérmica, com m vulcão sendo a fonte de energia. O presidente também afirmou que o financiamento virá de um imposto sobre vendas e pela emissão de US$ 1 bilhão em títulos soberanos lastreados em bitcoin .
Bukele, inclusive, fez um espetáculo para anunciar sua cidade do bitcoin:
Metade da receita gerada iria para o financiamento desse mega-projeto e a outra metade seria para comprar mais bitcoins. No mesmo dia do anúncio, o FMI revelou suas primeiras análises após representantes visitarem El Salvador.
Em uma declaração, o órgão aconselhou novamente que o país seja cauteloso com bitcoin:
“Planos recentemente anunciados de usar os recursos de novas emissões de títulos soberanos para investir em bitcoin, e as implicações de se negociar mais amplamente em bitcoin, exigirão uma análise muito cuidadosa das implicações e potenciais riscos para a estabilidade financeira.”
A resposta de Bukele pareceu minimizar os pontos negativos do relatório e inflar alguns elogios que a avaliação do FMI fez a seu governo. Agora, em janeiro de 2022, o FMI parece ter esgotado seus avisos (e paciência).
FMI dá ultimato: revogue Lei do Bitcoin
O Fundo Monetário Internacional pediu formalmente para que El Salvador revertesse a Lei do Bitcoin e abandonasse seu uso como moeda legal no país. Em um comunicado, os diretores do fundo enfatizaram os “grandes riscos associados ao uso do bitcoin para a estabilidade financeira, integridade financeira e proteção do consumidor”. Eles também expressaram preocupações sobre os riscos associados à emissão de títulos lastreados em bitcoin.
Bukele, descolado como é, respondeu com um meme :
Depois disso, duvido que o presidente salvadorenho volte a dizer que sua relação com o FMI está bem. Agora, mais do que nunca, as negociações com o El Salvador parecem resultar em uma óbvia recusa pelo financiamento bilionário , ao menos enquanto a Lei do Bitcoin se mantenha em vigor. No entanto, nem Bukele e nem o fundo demonstraram qualquer intenção de ceder.
Com informações: The Next W eb
Bitcoin em El Salvador cria problemas com FMI desde o ano passado